sábado, 19 de março de 2011

ALEXANDRIA


Vocês poderão dizer é apenas um filme. Mas, como tenho um espírito investigativo por genética e por formação, sempre vou atrás de saber o quanto de verdade e o quanto de romance tem na história que assisto. Vícios profissionais... Com este não foi diferente. Até porque as revelações eram tão fortes para minha moral herdada judaico-cristã, que desejava buscar um desmentir, bem mais fácil dizer que era imaginação do autor, a ideologia política do diretor, qualquer coisa, que minimizasse o choque que esse filme provocou em mim. Só consegui ficar ainda mais estarrecida, posto que nomes e histórias são rigorosamente verídicos.

Vocês, que acompanham este blog e me conhecem, bem sabem que tenho formação em sociologia, história, filosofia e até teologia. Podem imaginar meus espantos diante da minha ingenuidade ao acreditar que as conversões dos povos ao cristianismo foram por sedução ao discurso e vida de Cristo, o meu Amoroso, Fantástico e Fascinante Amigo. Jamais me ocorreu pensar que poderia ter sido imposto de forma cruel e sanguinária, oposta a todos os ensinamentos do Mestre.

Claro que nem eu, nem ninguém que tenha estudado história nas escolas, desconhecemos os famosos tempos das trevas da Idade Média e os absurdos da Inquisição. Mas nos primórdios do cristianismo, confesso nunca me detive nos detalhes das conversões, no uso indevido da Palavra, ou qualquer coisa semelhante. Este filme sacudiu minhas teias de aranhas e me obrigou a reflexões profundas...

Poderia dizer que o trabalho dos atores é excelente, fotografia e reconstrução de época perfeitas em vestimentas, arquitetura, costumes, música, tudo nele é da melhor qualidade. Mas, quem viu sabe e quem não viu verá.

O que desejo de fato compartilhar com vocês é minha tristeza, meu horror, minha descrença nas intenções de homens e nações, mas, sobretudo, na distorção da Idéia de Deus, a manipulação da doutrina cristã pelos desejosos de poder, o nome de Deus em vão ao longo de toda a nossa história!

Primeiro os homens mataram em nome de Jeová, tomaram as terras de outros homens em nome Dele (e as terras eram a forma de riqueza, pois garantiam a sobrevivência); depois mataram e torturaram e saquearam em nome de Jesus, considerando herege e/ou bruxo todo aquele que pensasse diferente; depois mataram e saquearam em nome da ralé ou 3º Estado; continuaram matando e saqueando em nome da revolução do proletariado, e continuam matando e saqueando em nome do lucro do deus dinheiro-poder. E o Deus dos cristãos alienado da vida de cada um...

Mas, todo esse discurso nós conhecemos.

A tristeza vem da incontestável deformação da Idéia de Deus Amor, do Cristo que amava de fato a todos e andava com todos os homens e mulheres, inclusive e, sobretudo, não judeus e homens desprezados naquela sociedade. Seus amigos não eram sacerdotes, nem ditos sábios, nem ricos. Como foi que deturpamos tanto seus ensinamentos?! Como alguns, ao longo da história do homem, se julgaram com direito de usar o nome Dele para obter poder? Como esses homens foram e são ainda considerados “santos” pela Igreja de Roma??? Como pouco a pouco distorcemos tudo e transformamos a doutrina da Libertação ensinada por Cristo, na doutrina da dominação de uns sobre os outros?

Assistam ao filme. Não tem desperdício. Apenas assistam com olhos de ver e ouvidos de ouvir. Aliás, estas também são palavras do Mestre “quem tiver ouvidos para ouvir ...

Cristina Manga
(in "Crônicas")


Nenhum comentário :

Postar um comentário