Há muito chamo à reflexão sobre a incapacidade de nossos estudantes de entender, refletir e expressar seu pensamento em todas as áreas. Primeira consequência decorrente de reformas de ensino inadequadas e, sobretudo, da retirada de Sociologia e Filosofia dos currículos no governo de FHC, por iniciativa do PSDB no Senado. O resultado foi desastroso na formação da capacidade do raciocínio lógico abstrato, da capacidade de articular conhecimento a partir de análise e síntese e na capacidade de expressão oral e escrita.
Outro resultado dessa medida foi a perda de valores que orientam a ação em sociedade e regula suas relações. A ética e a moral se articulam numa sociedade como elementos que estipulam critérios de ação e conduta interpessoais e coletivas. Quando uma sociedade se abstém dessas reflexões na formação de seus jovens, o resultado é a perda de foco de ações positivas, reflexivas, passando as relações a serem reguladas pelo marketing da vez, orientadas apenas para o consumo que interesse a grupos de controle econômico. Jovens sem objetivos coletivos, sem capacidade de autocrítica, sem normas de conduta que lhes permitam serem indivíduos críticos, construtivos e construtores de uma sociedade em evolução. Instala-se o reinado do poder aquisitivo como forma de realização pessoal e coletivo, não importa mais “ser”, mas somente “ter”, mesmo que para tal se atropele direitos e espaços alheios, que sequer serão considerados. Institui-se a neobarbárie.
Depois de anos de lutas, durante o governo Lula, professores e profissionais liberais de Filosofia e Sociologia, finalmente conseguiram que essas disciplinas fossem reintroduzidas nas salas de aula. O resultado ainda não pode ser sentido, posto que o processo educativo é lento e trabalhoso. Porém, já percebíamos reflexos positivos na formação de nossos jovens. Uma esperança de reverter a perda produzida em anos anteriores. Agora me chega a notícia de que, mais uma vez, as forças reacionárias discutem retirar essas disciplinas dos currículos!
Eis que esta manhã me deparo com mais esta notícia avassaladora! Hoje a Câmara dos Deputados (que deveria ser escrita com minúscula por sua minúscula contribuição ao crescimento do país) tem agendada para esta tarde uma reunião com professores, PASTORES e a BANCADA EVANGÉLICA para discutir a pauta mais AVASSALADORA E ABSURDA: eles querem a introdução na base educacional nacional do criacionismo bíblico, a presença da Bíblia na escola, a retirada dos currículos de todos os conteúdos relacionados às religiões de matriz africana e indígena no Brasil.
Isto é uma aberração sem medidas frente à composição do povo brasileiro e frente à Constituição do nosso país que afirma ser este um Estado LAICO! Uma afronta ao conhecimento e, principalmente à formação da identidade nacional. Algo sem nome que expresse inteiramente o tamanho da prepotência, da arrogância, do destempero, do retrocesso à Idade Média, apenas trocada a igreja que agora quer se impor a todos os brasileiros, sejam eles seus adeptos ou não. É inominável tal absurdo! Como cientista social só posso deixar aqui registrado o meu protesto veemente, minha preocupação crescente e minha indignação ao que considero uma aberração a ser cometida contra o nosso povo e a formação dos nossos jovens.
Cristina Manga
(in "Crônicas")
(in "Crônicas")
publicado em 2 de Junho de 2016 em
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