sexta-feira, 31 de março de 2017

COISAS DE SALA DE AULA


Ele era tímido, recém-chegado, vindo de uma pequena cidade do interior para a capital. Infelizmente chegou na véspera de uma prova mensal, cuja matéria ele não tinha assistido nenhuma aula.O que não o liberava de fazê-la. Teria ajudado se tivesse assistido, porque a professora tinha o hábito de repetir e fazer jogos para que os alunos memorizassem o conteúdo. Mas ele não esteve nelas.

Uma vez distribuídas as provas ela passeava pelas fileiras de carteiras, olhava cada um e havendo erro os fazia raciocinar até que sentisse que o aluno havia feito um raciocínio correto. Então se afastava silenciosamente. Eles sabiam a matéria, precisavam apenas um pouco de atenção. Sabiam também, que era a sua maneira de ajudá-los a recordar. Afinal prova é para verificar e não para reprovar.

E lá estava o pequeno, parado com ar perdido diante de uma questão de lacuna:

“Nosso primeiro imperador foi ....................... e seu cargo era ......................” Bastava completar o nome, e ele fez. D. Pedro I. O problema era a palavra “vitalícia” que não faz parte do vocabulário de uma criança de sexta série do fundamental.

Como fazer com ele chegasse na resposta? Começou a fazer uma série de raciocínios para ajudar.

“- o cargo era como o de um presidente?
- não!
- por quanto tempo alguém é presidente?
- acho que uns quatro anos!
- e o cargo do imperador era de quantos?
- pra toda a vida!
- e quanto é pra toda a vida como a gente chama isso?
- uhmmm....... Já sei!!!”

Ela afastou-se e aguardou. Continuou seu giro pelas fileiras vigilante e depois de um tempo passou pelo pequeno novamente.

Todo contente ele apontou a resposta que havia escrito. E lá estava:

“Nosso primeiro imperador foi D. Pedro I e seu cargo era...MORTAL”

Eis uma coroa que ninguém desejaria!

Cristina Manga
(in "Crônicas")


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