domingo, 30 de abril de 2017



Texto de Pablo Villaça na sua página do Facebbok

Neste exato momento, há um jovem chamado Matheus Ferreira da Silva ligado a máquinas que o ajudam a respirar enquanto seu rosto, inchado pelos golpes que recebeu e pela cirurgia feita às pressas para salvá-lo, permanece semioculto por imensas bandagens.

Matheus estava desarmado. Correndo para evitar a pancadaria que a PM distribuía em um número de manifestantes que não chegava perto daquele formado por policiais, o rapaz subitamente foi atingido de surpresa na testa pelo cassetete de um policial militar.

O cassetete se partiu ao meio, tamanha a ferocidade do agressor supostamente pago para proteger a população.

Matheus teve traumatismo cranioencefálico, ainda corre o risco de morrer e - caso sobreviva - pode sofrer sequelas que o acompanharão pelo resto da vida.

Enquanto isso, o indivíduo que o enviou para a UTI ainda não foi identificado por seus superiores embora as imagens exibam seu rosto claramente. E mesmo que seja identificado, o mais provável é que sofra o mesmo tipo de processo das centenas de policiais que massacraram inúmeros manifestantes em 2013: nenhum.

Agora imaginem o que ocorre nas favelas brasileiras e que diariamente passam pela brutalidade policial sem qualquer registro em vídeo que possa inibir a violência. Se diante das câmeras a PM age assim, o que ocorre longe destas é a pura barbárie.

Resquício da ditadura, a corporação, na prática, segue como braço armado do Estado para reprimir qualquer um que ouse questioná-lo, atuando também como símbolo dolorido da opressão econômica. É algo que vem de cima para baixo; uma lógica perversa que transforma o que deveria ser uma defesa do cidadão em um recurso para mantê-lo calado e passivo diante das injustiças cotidianas.

Aliás, de um ponto de vista puramente semiótico, é curioso notar como a imagem que traz o PM tentando matar Matheus (e é possível que sua tentativa ainda seja bem-sucedida) inclui, presa a um semáforo ao fundo, uma placa de sinalização que aponta ser proibida a conversão à esquerda.

O que vivemos hoje no Brasil, com a PM repressora, com um congresso dominado por bandidos que querem tirar os direitos do povo, com um judiciário tomado por figuras como a que quis proibir os trabalhadores de irem à Av. Paulista no Dia do Trabalhador, com uma mídia que não tem vergonha de identificar o PM criminoso como "homem trajado com uniforme de policial" e com um "presidente" que serve aos interesses da elite econômica e cobra fidelidade dos golpistas que o colocaram no poder é uma ditadura.

Uma ditadura que, cada vez mais, se aproxima, em termos de violência, daquela que a partir de 1964 quase destruiu toda uma geração. E que só tende a piorar.

                                          
                                                       Matheus Ferreira da Silva

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