Amanhã é um dia que não existe , por isso, as decisões e atitudes do “agora” são capazes de nos transformar e ecoar através do tempo. Conhecer a trajetória de Joana e sua potência intuitiva, diante de suas peripécias, nos convida a experimentar a vida e aproveitá-la com a carga do ser independente perante suas surpresas e armadilhas cotidianas que tentam aprisionar.
Com a ousadia de ser livre "Joana sempre foi vento, e como tal espalha sementes, e seu solo são todos os solos que queiram acolhê-las." (MANGA, 2020, p.17) Por meio de nuances metafóricas, bem-humoradas e conscientes é elaborada a história de uma mulher latino-americana, que como muitas resistem a posturas machistas dentro de um contexto patriarcal e conservador. Observamos a constituição da identidade da protagonista a partir das histórias de seus avós para na sequência visualizarmos o estigma de Joana tomando forma de liberdade do ser.
A escritora, professora e socióloga, Cristina Manga, a nossa Cris, propõe uma narrativa rica e consistente em que o momento histórico e suas problemáticas culturais, religiosas, políticas e econômicas são descortinadas, situadas em tempo e espaço latino-americano. Nesse caso, a história individual de Joana é exposta dentro de um cenário coletivo complexo, o qual ao longo da trama percebemos a configuração de repetições de problemas envolvidos por padrões de comportamentos socioculturais da história até os dias de hoje, e que Joana em sua tomada de consciência crescente desvela e toma as rédeas de sua vida própria, uma feminista em práxis.
O livro nos presenteia a sensação de uma companhia intrigante em constante autocrítica da protagonista. Como não admirar o espírito curioso tenaz de Joana? Mulher intensa, por isso assustadora para muitos, que não suportam sair do raso. Joana é mergulho profundo, assim como seu jeito de olhar as pessoas e o mundo. Não se entrega a poderes que manipulam. Provoca através de sua capacidade de ser leal a seus ideais e verdades: "Se uma casa não aguenta a ventania e ameaça ruir, de quem é a culpa? Do vento? Ou da fragilidade da casa? Com certeza é da casa! Então resolvi soltar meus ventos!" (MANGA, 2020, p.203)
Livânia Régia
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