Um rato olhando pelo buraco na parede vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Ficou aterrorizado quando descobriu que era uma ratoeira.
Foi para o pátio da fazenda advertindo a todos:
- Tem uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!
Porém, a galinha, que ciscava, levantou a cabeça e disse que não lhe dizia respeito, pois ela não corria perigo por causa da ratoeira. O cordeiro foi sarcástico, dizendo que ia orar pela alma dos ratos. O boi mal deu ouvidos a um animalzinho tão insignificante. Então o rato voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para encarar a ratoeira do fazendeiro.
Naquela noite ouviu-se na casa um barulho característico: a ratoeira aprisionara sua vítima. A mulher do fazendeiro correu para ver o que a armadilha havia pego. No escuro, ela não viu que a ratoeira pegou a cauda de uma cobra venenosa. A cobra picou a mulher.
O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre. Achando que uma canja confortaria sua esposa, o fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal - a galinha.
Como a mulher continuava mal, amigos e vizinhos vieram visitá-la. Para alimentá-los, o fazendeiro matou o cordeiro.
A mulher não melhorou e acabou morrendo. Muita gente veio para o funeral. O fazendeiro então sacrificou o boi para alimentar todo aquele povo.
Na próxima vez em que você ouvir um companheiro dizer que está diante de um problema e acreditar que isso não lhe diz respeito, lembre-se: quando há uma ratoeira na casa, toda a fazenda corre risco.
O autor é desconhecido, mas é o que nos acontece quando achamos que o bombardeio americano no Irã não tem nada a ver conosco. Quando pensamos que violência policial só acontece em favela e não estamos lá. Quando agridem um gay, ou prendem um inocente porque é negro, quando uma mulher é agredida, quando queimam a Amazônia, quando insultam um professor, quando um presidente mente e fingimos ignorar, quando um juiz faz coisas ilegais e usa a lei em proveito próprio ou de seus comparsas e nada fazemos e até desculpamos. Quando todos os dias viramos as costas para a realidade por comodismo ou conveniências, somos como a galinha, o cordeiro, ou o boi. Estamos indo para o matadouro.
Ou começamos a entender que o Irã é na esquina de casa, que governo é para servir ao conjunto do seu povo e não só para alguns, que todas as pessoas têm direitos e devem ser respeitadas, mesmo que não goste delas, ou sem dúvida sucumbiremos todos e não teremos para onde correr. Porque uma coisa é certa: todos sem exceção pagaremos a conta dos atos transloucados dos governantes. Aliá, já estamos pagando.
Cristina Manga
(in “Crônicas”)
02/01/20
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