Circo Social da Baixada - Foto Isabela Kassow
"A esquerda acredita que a maior parte das desigualdades é social e, enquanto tal, eliminável; a direita, que a maior parte delas é natural e portanto ineliminável. Para a primeira, a igualdade é um ideal, para a segunda, não." (Norberto Bobbio)
A separação entre esquerda e direita está muito clara no Brasil. Quem apoia a terceirização de atividade-fim, a desregulamentação financeira, a flexibilização das leis trabalhistas, a redução da maioridade penal, a alteração da lei do trabalho escravo, o financiamento privado de campanha, o regime de concessão do pré-sal, ou mais exatamente, a privatização da Petrobras, o fim do programa de conteúdo local, a substituição das empresas nacionais por similares estrangeiras, a redução de programas sociais como o bolsa-família, a austeridade fiscal, a troika, o Banco Central Europeu, o Banco Mundial, o FMI e a hegemonia do mercado financeiro está diretamente vinculado ao ideário da direita.
Os exemplos são inúmeros, mas todos similares, e representam o pensamento da nova direita brasileira. São pessoas que querem menos Estado, mais mercado. Menos escola, mais presídio. Menos livros, mais armamentos. Menos desenvolvimento, mais crescimento. Menos igualdade, mais liberdade. Menos impostos, mais isenções. Menos redistribuições, mais privatizações. Por sua vez, a esquerda defende exatamente o oposto. Nas frases anteriores, basta trocar o verbo 'apoiar' pelo verbo 'rejeitar'. O 'menos' pelo 'mais'. E o 'mais' pelo 'menos'. Eis o resumo simplificado do pensamento da esquerda brasileira.
Embora se trate de um resumo simplificador das diferenças entre os pensamentos da esquerda e da direita em termos conceituais mais amplos, esses exemplos são suficientes para se identificar como as ideias políticas no Brasil de hoje se bifurcam na prática. Há uma clara polarização em curso a respeito do projeto de país que se deseja. Politicamente no Brasil, hoje coexistem, ao menos neste momento imediato, para o bem ou para mal, no âmbito do poder executivo federal, apenas dois partidos com força política para governar o país. Cada um representa, em certo sentido, um desses dois lados. O PT e o PSDB. O primeiro vive uma crise interna gravíssima. O segundo declara-se pronto para governar o país.
Entre um e outro, há partidos e partidos. Bons e maus partidos. Partidos sérios e partidos oportunistas. No entanto, nenhum deles detém, hoje, capital eleitoral suficiente para liderar e assumir um dos polos desse confronto em termos nacionais. O PT é o progressismo que nós temos. É a nossa esquerda. É a possibilidade mais concreta da construção de um Estado de bem-estar social. O PSDB, por sua vez, é o conservadorismo modernizador, representante político do neoliberalismo e da direita brasileira. É o porta-voz do Estado mínimo e das políticas liberais conservadoras. Liberais na economia, conservadoras na política e repressoras na segurança pública.
No jogo de forças da política brasileira atual não há meio termo possível. As recentes votações no legislativo deixam claras as inclinações ideológicas de cada partido. Assim como da foça de cada um para aprovar ou rejeitar leis de importância capital. Há uma clara disputa entre dois projetos de governo e de poder para o Brasil, aglutinadas em cada um desses dois partidos: PT e PSDB. Trata-se de duas visões de mundo antagônicas. Duas concepções opostas de país. Uma centrada na busca de eficácia social. Outra focada na busca de eficiência gerencial.
A grande mídia brasileira também faz parte dessa luta pelo poder e elegeu explicitamente como seu aliado o PSDB. Há em jogo, portanto, uma clara disputa política e econômica. E como bem afirmam cotidianamente os jornalistas dos principais meios de comunicação, por meio de seus editoriais, o momento é de confronto. De guerra política. Assim quer a oposição e seus porta-vozes midiáticos. O objetivo da oposição é claro: derrubar imediatamente o governo eleito e implementar o projeto de governo interrompido em 2002. Deixar sangrar já não é mais a estratégia dominante. Todos têm pressa. Agora o que se pretende é extirpar o governo de Dilma Rousseff. De preferência com o uso da guilhotina. O cerco está armado. O circo está pegando fogo.
Em política não há perfeição. Desde Maquiavel, o jogo político tornou-se pragmático. Cada partido busca exercer o seu projeto de poder. E para atingir seus objetivos usa todas as armas disponíveis. Faz as alianças que melhor lhe convierem. Partidos políticos apresentam os mesmos defeitos, inerentes ao próprio exercício da atividade política. Tratando-se de vícios, partidos são espelhos. A história nos ensina isso. E embora se assemelhem em seus vícios, partidos distinguem-se em suas ideologias e em seus programas de governo. Não há como colocá-los todos no mesmo balaio. Portanto, é preciso tomar um posição. Mas isso não significa aceitar passivamente um dos lados e tomá-los como perfeitos e acabados. Ao contrário, a crítica é mais necessária do que nunca, qualquer que seja a posição tomada, para que erros sejam identificados e corrigidos..
E, por mais difícil que seja uma tomada de posição, não há mais espaços para ambiguidades, eufemismos e subterfúgios. Uma postura cética e cínica jamais beneficiou um país. Qualquer neutralidade reforçará sempre o lado mais poderoso. Tampouco o momento é para medo, ódio e indignações difusas. Não se trata mais de ser petista ou tucano. É uma decisão que transcende a questão partidária, embora a inclua do ponto de vista estritamente pragmático.
O momento é de exercer a cidadania com máxima sinceridade e foco. A hora é de decisão. Definição. Escolha. E uma vez definida a escolha, lutar verdadeiramente por ela. É o destino do país que está em jogo. As futuras gerações dependerão de nossas escolhas. Um país não é uma abstração. Um país é o que fazemos dele. O PT e o governo federal talvez possuam um milhão de defeitos. Mas representam o projeto de país ao qual acredito que valha a pena lutar. Aqui declaro meu apoio à presidente Dilma Rousseff. A luta já começou.
Ulysses Ferraz
Nenhum comentário :
Postar um comentário